Episódio 13

A poesia como um desdobrar, ou seja, como um desfazer as dobras das coisas, e ao mesmo tempo mantendo o seu mistério. Esse é o tema do episódio de hoje. Falamos do fazer poético como um processo de construção em que não há interesse em fixar o sentido das coisas. A poesia como um ato marcado pela incompletude e por um constante aventurar-se por novos caminhos. Nelson Maca bate um papo com nosso apresentador sobre esse e outros assuntos e partilha com os nossos ouvintes o poema criado especialmente para o Volteio. Vem com a gente!  

O Volteio é contemplado pelo Prêmio Anselmo Serrat de Linguagens Artísticas, da Fundação Gregório de Mattos, Prefeitura Municipal de Salvador, por meio da Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc, com recursos oriundos da Secretaria Especial da Cultura, Ministério do Turismo, Governo Federal.

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Confira o poema de Nelson Maca:

Sou a comunicação ancestral que ainda se faz presente. Dependo de quem me bate. Bato para quem de mim depende. Rito e festa. Quem me sente não se encosta. Quem me toca segue em frente. Venho de longe no tempo. Sigo no pulso da história. Quilômetros percorro em ondas. Sons de tropeços e glórias. Quem tá te falando. Não tá se mostrando. Mas tá percutindo. No teu pensamento. Da noite ao dia. Cruzo oceanos. Atravesso oceanias. Do ocidente ao oriente. Acento árabe. Traço asiático. Segmento americano. Adoção do europeu. Fundamento africano. Como falo depende da hora. Acordo o clarão do dia. Desperto o escuro da noite. Anuncio o raio da aurora. Quem tá te falando. Não tá se mostrando. Mas tá percutindo. No teu pensamento. Sólido da parede. Vazio do oco. Às vezes, nasço intacto. Apareço na casca do coco. Sou do barro. Filho da terra. Sou da madeira. Cria da floresta. Sou do aço. Descendente do minério. Quase eterno no plástico da fábrica. Ao acaso, me descobrem nos potes. Na ausência, me inventam nos bancos. Reciclado, me forjam na lata. Com arroubos, me socam na porta. Quem tá te falando. Não tá se mostrando. Mas tá percutindo. No teu pensamento. Alegre. Triste. Estreito. Profundo. Largo. Simples. Solto. Duplo. Duro. Em grupo, eu sou bloco. Em movimento, sou escola. Embalo multidão. Conduzo exército. Aberto. Estreito. Médio. Nem tão grande que se cale o ar. Nem tão estreito que não caiba o vento. Falo na língua do tapa. Respondo a pergunta do soco. Berro na orelha do branco. Grito no ouvido do preto. Quem tá te falando. Não tá se mostrando. Mas tá percutindo. No teu pensamento. Quem tá te falando. Não tá se mostrando. Mas tá percutindo. No teu pensamento. Velocímetro do conjunto. Minha velocidade te orienta. Apanho na canção da Marrom. Agito o coração de Valença. Sou a comunicação ancestral que ainda se faz presente. Dependo de quem me bate. Bato para quem de mim depende.

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